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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

José Dirceu: “sou um cubano-brasileiro”




Artigo publicado pelo site Mídia sem máscara em 04 Dezembro 2012. Ecsrito por Carlos Azambuja

O Mídia Sem Máscara republica hoje artigo do historiador Carlos Azambuja sobre a trajetória de José Dirceu, um dos delinqüentes maiores da máfia petista, que posa de vítima no caso do Mensalão, do qual foi o grande operador (tendo Lula como chefão) e que agora tem a cara de pau de afirmar que o Caso Rosemary Noronha, no qual seu nome já está envolvido, não é nada mais que uma nova armação de setores conservadores. Enfim, a velha inversão revolucionária de sempre.

Uma análise de “O Último Comboio”, capítulo do livro “A Revolução Impossível”, onde o papel de José Dirceu no terrorismo financiado por Cuba é abordado.

José Dirceu, em setembro de 1988, afirmou: “Nunca fui foquista. Participei da luta armada, apoiei, achava que era necessária, mas na verdade nunca acreditei nela como forma de luta” (página 110 do livro “Abaixo a Ditadura”, escrito por ele e por Vladimir Palmeira).

José Dirceu, em um seminário do Partido dos Trabalhadores, realizado dias 15 e 16 Abr 89, às vésperas da eleição presidencial, já vislumbrando uma provável vitória de LULA, e recordando-se do treinamento militar que recebeu em Cuba, com o nome de “Cmt Daniel”, disse: “Em vez de comandar uma coluna guerrilheira, o grande sonho de minha vida, vou ter que comandar uma coluna de carros oficiais em Brasília”.

No capítulo “O Último Comboio” do livro “A Revolução Impossível”, de autoria de Luis Mir, editado em 1994 pela Editora Best-Seller, 755 páginas, há as seguintes referências a José Dirceu de Oliveira e Silva, o kamarada “Daniel”, que foi militante do PCB, depois da Ala Marighela, depois da Ação Libertadora Nacional, depois do Molipo, e hoje do Partido dos Trabalhadores.

Na página 613: “Se radicara em Cuba depois de sua saída da prisão na lista dos 15 presos libertados em troca do embaixador norte-americano. Amargou um veto logo na chegada quando pediu o ingresso no treinamento militar e na ALN. O responsável pela organização em Havana, Agostinho Fiordelísio, lhe disse que deveria se integrar ao processo com vagar e não de imediato. Havia restrições de parte da ALN à sua figura desde seu tempo como presidente da União Estadual de Estudantes de São Paulo e candidato a presidente da União Nacional de Estudantes: carreirista e pouco confiável politicamente. Era, o que se chamava na época, de um quadro adormecido, ou seja, à espera do que fazer. Quando foi escolhido para a tarefa, estava inscrito no treinamento militar em Pinar Del Río, num grupo de militantes de várias organizações. É isolado para se dedicar exclusivamente a isso. Apresentado por Alfredo Guevara ao ministro da Defesa, Raúl Castro durante uma solenidade, os dois conversaram muito e marcaram um novo encontro. Começou a relação política e militar entre os dois. José Dirceu teve o acesso franqueado por Raúl Castro a documentos importantes sobre estratégia militar, informação e contra-informação, segurança militar. Finalmente, faz um curso e se torna especialista em questões militares. É essa especialização (e mais o treinamento militar) que o torna habilitado, segundo os internacionalistas cubanos, a viabilizar a entrada do contingente guerrilheiro que retomaria a luta. A transformação em quadro político-militar no aparelho internacionalista cubano surpreende a todos. Nos encontros políticos dos brasileiros, na capital cubana, para discutir a realidade brasileira e a caminhada revolucionária, suas opiniões eram vistas com desdém e as propostas que fazia, todas, eram invariavelmente derrotadas”.

Na página 615, um depoimento do também banido, militante da ALN, Agonalto Pacheco:

“O planejador do novo dispositivo político-militar dentro do Brasil foi José Dirceu, que fez tudo sem a menor base na realidade e a partir de Havana. A organização não tinha condições de receber ninguém, não havia a menor segurança. Tentamos discutir isso com Piñero, Valdes, Herrera (obs: respectivamente, chefe e membros da Inteligência cubana). Não pude falar com Dirceu, que vivia isolado. Todos nós que participamos, cubanos e brasileiros, temos que ter uma visão crítica desse processo, humildade revolucionária para assumir nosso papel e nossos erros”.

Na página 617, prossegue Luis Mir:

“O Grupo dos 28” (obs: ou Grupo Primavera ou Molipo-Movimento de Libertação Popular) “como ficou conhecido, eram 32. Destes, morreram 18 (...). Os sobreviventes são Itobi Alves Corrêa, que segundo Agostinho Fiordelísio estava em pânico quando lhe pede para livrá-lo da viagem ao Brasil (vai para o Chile e depois do golpe militar naquele país se radica em Paris); Vinicius Medeiros Caldevilla, que se recusa a embarcar e consegue permanecer em Cuba trabalhando na Rádio Havana; Luiz Araújo, que inicia a viagem de regresso mas deserta em Argel; Ana Corbisier, que entrou no Brasil e com o massacre que se dá, se refugia num convento de Freiras em Salvador, Bahia, trabalhando num revista católica e submergida na mais absoluta clandestinidade por cinco anos; José Dirceu, que retornou para Cuba, onde viveria longos anos trabalhando como quadro internacionalista para o governo cubano; um camponês conhecido como Brechu e Natanael de Moura Giraldi”.

Na página 618:

“Agostinho Fiordelísio confirma que o grupo de estudantes paulistas despertou nos dirigentes cubanos algo próximo da euforia: ‘O contingente militar do PCB era, efetivamente, o melhor que a ALN tinha trazido para Cuba. O esquema foi preparado por José Dirceu em menos de seis meses. O planejamento: o grupo entraria no Brasil e começaria a agir imediatamente. Resgataria os quadros que estavam detidos, se necessário com um grande seqüestro e, com a unidade revolucionária consolidada, se iria para o campo’. O Chile de Allende, o primeiro presidente socialista do continente, eleito em setembro de 70, daria a retaguarda política do novo projeto (...)”.

Prossegue Luis Mir: “José Dirceu desembarca no Rio no final de abril de 1971, no exato momento em que o fuzilamento de Marcio Leite Toledo demole a estrutura da ALN” (obs: Marcio Leite Toledo, um quadro da ALN, cursado em Cuba, foi “justiçado” na rua, em São Paulo, em 23 de março de 1971, por seus companh eiros). Aproveita a crise pessoal e política dos contrários à execução para convencê-los de que uma retomada, com novos dirigentes e práticas, estava em curso. Hiroaki Torigoi e Silvia Peroba Carneiro Pontes engajam-se na nova travessia. A primeira tarefa encomendada por Dirceu: assaltar um cartório para conseguirem certidões de nascimento e casamento para os militantes que estavam voltando. O assalto, num cartório de Santo André, periferia de São Paulo, foi bem sucedido. José Dirceu retorna a Cuba depois de diversas viagens pelo Brasil para verificar o que sobrara depois da morte de Câmara Ferreira” (obs: dirigente da ALN, morto em dezembro de 1970): “algumas poucas pessoas, aterrorizadas, e um pequeno núcleo de dez militantes comandados por Carlos Eugênio”(Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, um dos matadores de Marcio Leite Toledo, o último dos comandantes da ALN, que logo depois, em dezembro de 1972, abandonou seus comandados e viajou para Cuba, onde recebeu treinamento armado e, na hora de voltar para o Brasil, desertou, indo viver em Paris até a Anistia), “isolados e sem capacidade militar ou operacional. Apesar disso, seu relatório, feito em Havana, é otimista: a entrada do grupo teria boas condições de segurança. O momento em que os encarregados de reorganizar o movimento revolucionário voltam ao Brasil era o pior possível, segundo Carlos Eugênio: ‘Vivíamos acesos 24 horas por dia. Não tínhamos tempo de pensar em nada mais que não fosse a sobrevivência. Os militantes da ALN descobriram que havia uma nova organização revolucionária durante o assalto à Ericsson. Numa ação conjunta do GTA (Grupo Tático Armado) e do grupo Frente de Massas, dois grupos chegam quase que simultaneamente. Todos velhos conhecidos. Os “outros” eram os recém-chegados do Molipo”.

“Lídia Guerlanda rememora o espanto com os recém-chegados e seus planos: ‘O Molipo chegou como se nada tivesse acontecido. Já tinha acontecido, sim, a tragédia. Estávamos assaltando para comer, para sobreviver’”.

“No Presídio Tiradentes, a criação do Molipo provoca reações desencontradas e uma certeza sinistra: seria um grande massacre em curtíssimo prazo (...) De fevereiro a julho de 1971, forma-se um corredor de entrada dos militantes do Molipo através do Chile (...) Outro objetivo: o recrutamento de novos quadros entre os quatro mil exilados brasileiros no Chile, um grande celeiro de quadros (...) Em julho de 1971 Reinaldo Morano faz um balanço estatístico de tempo de sobrevivência na clandestinidade: seis meses”.

Por tudo isso, pode ser dito que o kamarada “Daniel”, embora tenha recebido treinamento armado em Pinar Del Rio e acesso a documentos importantes sobre estratégia militar, informação e contra-informação e segurança militar – facilitados por Raúl Castro -, o que, teoricamente, - contrariamente ao julgamento de seus próprios companheiros - o transformou em um especialista em questões militares, foi o grande responsável pela morte de todos os seus companheiros do Molipo que, seguindo suas ordens, voltaram clandestinamente ao Brasil.

Finalmente, (página 629) “Em 18 de agosto de 1971, viria à luz, em Milão, redigido por Ricardo Zaratini e Rolando Frati, a segunda parte do documento ‘Por uma Autocrítica Necessária’. Uma análise crítica devastadora sobre a luta armada, guevarismo, debraysmo, guerrilha rural e a derrota. Esse debate duraria cerca de dois anos, a partir de uma premissa básica: retornar ao PCB ou formar um novo partido comunista”.

Muitos retornaram ao PCB e outros tantos, como o kamarada “Daniel”, formaram – ou ajudaram a formar – um novo partido: o Partido dos Trabalhadores.

Recordemos que quando de sua posse como ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu depois de elogiar o ditador de Cuba, Fidel Castro, agradeceu seu apoio nos anos 70, quando o comandante o abrigou. Dirceu dedicou parte de seu pronunciamento para lembrar episódios da sua geração. Em tom nostálgico, disse que suas primeiras palavras seriam para aqueles que lutaram com ele e não puderam ver a posse de Lula.

No início de Abril de 2003, José Dirceu voltaria ao assunto, declarando que a geração que chegou ao poder com o presidente Lula deve muito a Cuba. Lembrou que nos anos do regime militar a esquerda teve a solidariedade de Cuba com “sua mão amiga e seu braço forte”. “A geração que chegou ao poder com Lula é devedora de Cuba. E me considero um brasileiro-cubano e um cubano-brasileiro”.

 
Carlos I. S. Azambuja é historiador.

Ler autores clássicos estimula o cérebro e pode servir como 'autoajuda', diz estudo


William Shakespeare: A leitura de obras clássicas estimula a atividade cerebral e ainda pode ajudar pessoas com problemas emocionais, diz estudo (Georgios Kollidas/Hemera/Getty Images)

 Atividade cerebral parece aumentar com a leitura de textos clássicos, o que não ocorre quando uma pessoa se depara com a mesma história, mas escrita de forma coloquial



Para chegar a esses resultados, a equipe que realizou o trabalho, coordenada por Phillip Davis, professor da Universidade de Liverpool, selecionou 30 voluntários e pediu que eles lessem o primeiro trecho de uma série de obras clássicas da literatura inglesa. Depois, os participantes foram orientados a ler a mesma história, mas reescritas em uma linguagem coloquial. Nesses dois momentos da pesquisa, os autores monitoraram a atividade cerebral dos indivíduos por meio de exames de ressonância magnética.

Alimento para a mente — Os pesquisadores observaram, então, que a atividade cerebral dos participantes "dispara" quando eles se deparam com palavras incomuns ou com uma estrutura semântica complexa. No entanto, a atividade do cérebro continua normal quando o indivíduo faz a leitura do mesmo conteúdo, mas escrito de uma forma coloquial. Segundo o estudo, esses estímulos proporcionados pelas obras clássicas se mantêm durante um tempo, podendo surtir efeitos positivos a longo prazo para a mente de uma pessoa, como a sua capacidade de concentrar-se, por exemplo.

A equipe também descobriu que a leitura de textos clássicos afeta a atividade do lado direito do cérebro, região onde são armazenadas as lembranças autobiográficas. Isso, segundo os pesquisadores, ajuda um indivíduo a refletir e a entender melhor as suas lembranças. Portanto, pode servir como uma atividade de autoajuda mais útil do que os próprios livros com essa finalidade, segundo os autores. “A poesia não é só uma questão de estilo. A descrição profunda de experiências acrescenta elementos emocionais e biográficos ao conhecimento cognitivo que já possuímos de nossas lembranças”, diz Davis.

Fonte: http://veja.abril.com.br

Os demônios na educação

 Por João Malheiro

Terminei recentemente a leitura de uma das obras de maior fôlego de Dostoievski, Os Demônios. Um autêntico tratado sobre o mal com certo tom de denúncia, no qual analisa a implantação subliminar da mentira social na Rússia no fim do século 19. A riqueza da obra consiste em seu caráter profético e totalmente aplicável às gerações futuras. Segundo o autor, o mal pode ser definido como a incapacidade de uma pessoa entrar em contato com a verdade e com a realidade. Uma autêntica privação de um poder, que foi sendo enfraquecido de forma subreptícia, sem, contudo, que a vítima se dê conta.

O personagem de destaque da obra é Piotr Stiepanovitch. Ele é o que os filósofos chamam niilista: desiludido, ressentido, descrente do homem e de Deus, talvez pela experiência de algum grande sofrimento injusto e incompreensível, vive sem ver sentido na vida e sua motivação existencial se apoia unicamente na ciência. É um filho do mal. Paulatinamente, vai se convencendo de que terá mais autonomia se idolatrar a ciência e matar a metafísica. E, aos poucos, vai defender que a racionalidade só é válida quando se pode medir, calcular, provar, sentir, comparar.

O aspecto mais perigoso de um niilista é sua vontade de destruir a relação entre pais e filhos. Ele enxerga nessa estratégia o caminho mais rápido para romper a transmissão da vida. Em paralelo, entende também como necessário fragilizar a relação entre homem e mulher. No início, vai mostrar que a ciência poderá dominar novas formas de reprodução, de família, que tornarão o homem mais emancipado, mais feliz. Vai promover legislações, caminhadas, campanhas que autorizem todo tipo de eugenia, eutanásia, formas de morrer, com argumentos de modernidade, vanguarda etc. Sua maior conquista será fazer que as mulheres acreditem que a maior desgraça que lhes poderá acontecer é ser mães... Mais tarde, como sempre acontece quando se cede à tentação, a própria sociedade perceberá que se tratava de mais um engodo.

O enfraquecimento da educação faz parte deste plano diabólico de destruição da relação entre pais e filhos. Para esta visão, não importa mais que os valores culturais sejam transmitidos. O mais importante é, na verdade, a sua completa destruição. Para que isso não tenha uma aparência despótica e violenta, várias teorias “demoníacas” foram nascendo ao longo dos séculos 19 e 20, de modo a justificar a implosão de todo o processo educativo. Nesse contexto aparece a teoria do bom selvagem (Rousseau), a de Freud (não se pode reprimir a espontaneidade nem os impulsos sensitivos da criança, mas somente estimulá-los, assim como toda a atividade sexual), o pragmatismo autônomo (Dewey), a valorização do método suplantando o conteúdo, o sentimentalismo educativo e tantas outras desvirtuações pedagógicas com auréolas de modernas e avançadas.

Já ficou claro qual é o mecanismo do mal e como ele o utiliza. Por meio de uma aparente verdade, sempre prazerosa e sem sofrimento, vai cegando a inteligência humana com a mentira, com uma promessa de retribuição de um prêmio futuro que nunca chega. Quando o homem consegue desvendar essa tramoia, as “teias de aranha” do engodo não o deixam mais libertar-se, e o sofrimento é sempre maior. Aquele que parecia um “anjo da luz” acaba mostrando, no fim, a sua verdadeira identidade.

João Malheiro é doutor em Educação pela UFRJ.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Números gayzistas

 por Bruno Braga | 14 Janeiro 2013

No dia 10 de janeiro a Folha de São Paulo publicou um levantamento realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB): 336 gays, lésbicas e travestis foram assassinados em 2012 – dado que significa um homicídio a cada 26 horas [1].

O propósito do movimento gayzista [2] é demonstrar que existe uma matança generalizada de homossexuais no país e, consequentemente, provar que o Brasil é um país “homofóbico”. A exposição dos dados – estabelecendo a relação homicídio/tempo – não é por acaso – é um formato que sensibiliza o público em geral, e também o leitor da reportagem. Mas, será que existe, realmente, este banho de sangue gay?

Seria prudente analisar os números do Grupo Gay da Bahia e os critérios adotados para a pesquisa. Mas, que se dê um crédito à organização: 336 gays, lésbicas e travestis foram assassinados em 2012. Acontece que, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2012), 45.308 pessoas foram assassinadas em 2011 [3]. Adotando a forma expositiva do GGB, o homicídio no Brasil produz 5 cadáveres por hora. Portanto, estabelecer o comparativo – 336/45.308 – é uma obscena falta do senso das proporções.

Ademais, qual foi a motivação dos assassinatos daqueles homossexuais? Foi uma motivação “homofóbica”, quer dizer, os homossexuais foram assassinados por pessoas perturbadas que têm ódio mortal contra os homossexuais? Quando a questão foi colocada para Dudu Michels, analista responsável pelo material gayzista, ele imediatamente respondeu: “quando o movimento negro, os índios, ou as feministas divulgam suas estatísticas, não se questiona se o motivo foi racismo ou machismo”. Bom, se a questão sobre a motivação dos crimes não é posta para outros movimentos e grupos, é um grave equívoco, porque a motivação é elemento caracterizador do preconceito e da discriminação. Mas, o erro com relação aos outros não desobriga o Sr. (ou Sra.) Michels, que deve sim responder sobre a motivação dos crimes contra homossexuais, para fundamentar o alarde contra a suposta homofobia. Um caso pode esclarecer a necessidade desta obrigação.

Em 2011 um ativista do movimento gay noticiou o seguinte: “O dia de hoje foi atípico. Sentimento de dor, perda, injustiça. Na noite de ontem, mais um jovem gay assassinado no Brasil. Dessa vez, em São João del-Rei/MG. Um jovem de 18 anos perde a vida de forma brutal e injusta. No velório amigos, família e comunidade. Um só discurso: foi injusto, queremos justiça”.

Este homicídio entraria automaticamente nas estatísticas do Grupo Gay da Bahia. Mas, qual foi a motivação do crime? Foi por ódio contra homossexuais? “Homofobia”? O próprio texto esclarece a dúvida:

“Até que a Polícia Civil investigue e conclua o inquérito o que se tem como certo é um jovem gay assassinado pelo próprio companheiro por não aceitar o término do relacionamento conturbado dos últimos meses” (o destaque é meu) [4].

Um homossexual assassinou outro homossexual. Quantos casos semelhantes a este compõem os dados apresentados pela militância gayzista? A julgar pela experiência do delegado Marcelo Falcone – que trabalhou na Delegacia Especializada em Crimes Homofóbicos em João Pessoa – não são poucos. Ele observa que em muitos casos os autores dos homicídios são acompanhantes das vítimas: “Isto acontece muito entre os homossexuais do sexo masculino que contratam garotos de programa. Existe um preconceito muito grande porque esses rapazes não se sentem gays” [5]. Ou seja, são gays matando gays.

A propósito, em 2010, Marcelo Cerqueira – membro do Grupo Gay da Bahia – afirmou que a maioria dos crimes de ódio e assassinatos de homossexuais era promovida por garotos de programa [6].

O artigo da Folha de São Paulo ainda apresenta as considerações de um “especialista”. Luiz Mott - “decano” do movimento gayzista no Brasil [7] – assume a autoridade de um “antropólogo” e afirma: 99% dos homicídios listados pelo GGB – entidade da qual é presidente – é de natureza “homofóbica”. Porém, Luiz Mott acrescenta à “homofobia” uma série de categorias – “individual”, “cultural”, e “institucional” –, ampliando de tal modo o seu significado, que qualquer violência praticada contra o homossexual, e qualquer sofrimento ou dor dele, torna-se “homofobia”. Um caso explícito de manipulação conceitual.

O “antropólogo” e líder gayzista observa que o número de casos deve ser ainda maior, porque muitos não são conhecidos. Mas, se os casos não são conhecidos, como ele pode dizer que existem mais? Ora, Luiz Mott tem o dom de transformar uma hipótese em realidade concreta.

Enfim, a pesquisa do Grupo Gay da Bahia é mais uma peça panfletária produzida pelo movimento gayzista. Instrumento fraudulento de promoção política, mecanismo para reivindicar privilégios e realizar uma obscura engenharia social.  

Notas:

[1]. Cf. Folha de São Paulo, 10 de Janeiro de 2013 [http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1212866-um-homossexual-e-morto-a-cada-26h-no-brasil-diz-grupo-gay.shtml].

[2]. Observar a diferença entre o homossexual e o movimento gayzista. Este último é a transformação da sexualidade em princípio de organização política e de promoção de engenharia social.

[3]. Cf. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2012, Tabela 10, p. 28. [http://www2.forumseguranca.org.br/node/32131].

[4]. Cf. [http://carllosbem.blogspot.com.br/2011/07/perdemos-mais-um-jovem-gaye-podemos.html]. E o narrador ainda revela: “Pude ver um adolescente gay de 15 anos chorando copiosamente porque também está sendo ameaçado de morte pelo assassino que continua solto pelas ruas da cidade”.

[5]. Cf. G1, 26 de Agosto de 2011. [http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2011/08/paraiba-tem-12-assassinatos-por-homofobia-em-2011-diz-levantamento.html].

[6]. Cf. Mix Brasil, 2005. [http://mixbrasil.uol.com.br/print/NjYzNjA].

[7]. Sobre Luiz Mott, Cf. BRAGA, Bruno. “A vanguarda gayzista” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/05/vanguarda-gayzista-1.html]; “Os herdeiros de Kinsey” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/01/os-herdeiros-de-kinsey.html].

http://www.midiasemmascara.org

A falsa oposição entre o nazi-fascismo e o comunismo


Entrevista do filósofo Olavo de Carvalho para o jornal conservador romeno În Linie Dreaptă. Bucareste (Romênia), 11 de junho de 2011.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Lula, réu confesso

 Eu deveria estar grato ao sr. presidente da República. Quando praticamente a mídia nacional inteira se empenha em camuflar as atividades ou até em negar a existência do Foro de São Paulo, tachando de louco ou fanático aquele que as denuncia, vem o fundador mesmo da entidade e dá todo o serviço, comprovando de boca própria as suspeitas mais deprimentes e algumas ainda piores que elas.

O discurso presidencial de 2 de julho de 2005, pronunciado na celebração dos quinze anos de existência do Foro e reproduzido no site oficial do governo, http://www.info.planalto.gov .br/download/discursos/pr812a .doc, é a confissão explícita de uma conspiração contra a soberania nacional, crime infinitamente mais grave do que todos os delitos de corrupção praticados e acobertados pelo atual  governo; crime que, por si, justificaria não só o impeachment como também a prisão do seu autor.

À distância em que estou, só agora tomei ciência integral desse documento singular, mas os chefes de redação dos grandes jornais e de todos os noticiários de rádio e TV do Brasil estiveram aí o tempo todo. Tendo sabido do discurso desde a data em que foi pronunciado, ainda assim continuaram em silêncio, provando que sua persistente ocultação dos fatos não foi fruto da distração ou da pura incompetência: foi cumplicidade consciente, maquiavélica, com um crime do qual esperavam obter não se sabe qual proveito.

O sentido destes parágrafos, uma vez desenterrado do  lixo verbal que lhe serve de embalagem, é de uma nitidez contundente:
    "Em função da existência do Foro de São Paulo, o companheiro Marco Aurélio tem exercido uma função extraordinária nesse trabalho de consolidação daquilo que começamos em 1990... Foi assim que nós, em janeiro de 2003, propusemos ao nosso companheiro, presidente Chávez, a criação do Grupo de Amigos para encontrar uma solução tranqüila que, graças a Deus, aconteceu na Venezuela. E só foi possível graças a uma ação política de companheiros. Não era uma ação política de um Estado com outro Estado, ou de um presidente com outro presidente. Quem está lembrado, o Chávez participou de um dos foros que fizemos em Havana. E graças a essa relação foi possível construirmos, com muitas divergências políticas, a consolidação do que aconteceu na Venezuela, com o referendo que consagrou o Chávez como presidente da Venezuela.

    "Foi assim que nós pudemos atuar junto a outros países com os nossos companheiros do movimento social, dos partidos daqueles países, do movimento sindical, sempre utilizando a relação construída no Foro de São Paulo para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política."

O que o sr. presidente admite nesses trechos é que:

1º. O Foro de São Paulo é uma entidade secreta ou pelo menos camuflada ("construída... para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política").

2º. Essa entidade se imiscui ativamente na política interna de várias nações latino-americanas, tomando decisões e determinando o rumo dos acontecimentos, à margem de toda fiscalização de governos, parlamentos, justiça e opinião pública.

3º. O chamado "Grupo de Amigos da Venezuela" não foi senão um braço, agência ou fachada do Foro de São Paulo (" em função da existência do Foro... foi que propusemos ao companheiro presidente Chavez ...").

4º. Depois de eleito em 2002, ele, Luís Inácio Lula da Silva, ao mesmo tempo que pro forma abandonava seu cargo de presidente do Foro de São Paulo, dando a impressão de que estava livre para governar o Brasil sem compromissos com alianças estrangeiras mal explicadas, continuou trabalhando clandestinamente para o Foro, ajudando, por exemplo, a produzir os resultados do plebiscito venezuelano de 15 de agosto de 2004 (" graças a essa relação foi possível construirmos a consolidação do que aconteceu na Venezuela "), sem dar a menor satisfação disso a seus eleitores.

5º. A orientação quanto a pontos vitais da política externa brasileira foi decidida pelo sr. Lula não como presidente da República em reunião com seu ministério, mas como participante e orientador de reuniões clandestinas com agentes políticos estrangeiros ("foi uma ação política de companheiros,  não uma ação política de um Estado com outro Estado, ou de um presidente com outro presidente"). Acima de seus deveres de presidente ele colocou sua lealdade aos "companheiros".

O sr. presidente confessa, em suma, que submeteu o país a decisões tomadas por estrangeiros, reunidos em assembléias de uma entidade cujas ações o povo brasileiro não devia conhecer nem muito menos entender.

Não poderia ser mais patente a humilhação ativa da soberania nacional, principalmente quando se sabe que entre as entidades participantes dessas reuniões decisórias constam organizações como o MIR chileno, seqüestrador de brasileiros, e as Farc, narcoguerrilha colombiana, responsável segundo seu parceiro Fernandinho Beira-Mar pela injeção de duzentas toneladas anuais de cocaína no mercado nacional.    

Nunca um presidente eleito de qualquer país civilizado mostrou um desprezo tão completo à Constituição, às leis, às instituições e ao eleitorado inteiro, ao mesmo tempo que concedia toda a confiança, toda a autoridade, a uma assembléia clandestina repleta de criminosos, para que decidisse, longe dos olhos do povo, os destinos da nação e suas relações com os vizinhos. Nunca houve, no Brasil, um traidor tão descarado, tão completo e tão cínico quanto Luís Inácio Lula da Silva.

A maior prova de que ele ludibriou conscientemente a opinião pública, mantendo-a na ignorância das operações do Foro de São Paulo, é que, às vésperas da eleição, amedrontado pelas minhas constantes denúncias a respeito dessa entidade, mandou seu "assessor para assuntos internacionais", Giancarlo Summa, acalmar os jornais por meio de uma nota oficial do PT, segundo a qual o Foro era apenas um inocente clube de debates, sem nenhuma atuação política (v. http://www.olavodecarvalho.org /semana/10192002globo.htm).

E agora ele vem vem se gabar da "ação política de companheiros", praticada com recursos do governo brasileiro às escondidas do Parlamento, da justiça e da opinião pública.

Comparado a delito tão imenso, que importância têm o Mensalão e fenômenos similares, senão enquanto meios usados para subsidiar operações parciais no conjunto da grande estratégia de transferência da soberania nacional para a autoridade secreta de estrangeiros?

Pode haver desproporção maior do que entre vulgares episódios de corrupção e esse crime supremo ao qual serviram de instrumentos?

A resposta é óbvia. Mas então por que tantos se prontificam a denunciar os meios enquanto consentem em continuar acobertando os fins?

Aqui a resposta é menos óbvia. Requer uma distinção preliminar. Os denunciantes dividem-se em dois tipos: (A) indivíduos e grupos comprometidos com o esquema do Foro de São Paulo, mas não diretamente envovidos no uso desses meios ilícitos em especial; (B) indivíduos e grupos alheios a uma coisa e à outra.

O raciocínio dos primeiros é simples: vão-se os anéis mas fiquem os dedos. Já que se tornou impossível continuar ocultando o uso dos instrumentos ilícitos, consentem em entregar às feras os seus operadores mais notórios, de modo a poder continuar praticando o mesmo crime por outros meios e outros agentes. O conteúdo e até o estilo das acusações subscritas por essas pessoas revelam sua natureza de puras artimanhas diversionistas. Quando atribuem a corrupção do PT, que vem desde 1990, a acordos com o FMI firmados a partir de 2003, mostram que sua ânsia de mentir não se inibe nem diante da impossibilidade material pura e simples. Quando lançam as culpas sobre "um grupo", escamoteando o fato de que as ramificações da estrutura criminosa se estendiam da Presidência da República até prefeituras do interior, abrangendo praticamente o partido inteiro, provam que têm tanto a esconder quanto os acusados do momento.

Mais complexas são as motivações do grupo B. Em parte, ele compõe-se de personagens sem fibra, física e moralmente covardes, que preferem ater-se ao detalhe menor por medo de enxergar as dimensões continentais do crime total. Há também o subgrupo dos intelectualmente frouxos, que apostaram na balela da "morte do comunismo" e agora se sentem obrigados, para não se desmentir, a reduzir a maior trama golpista da história da América Latina às dimensões mais manejáveis de um esquema de corrupção banal, despolitizando o sentido dos fatos e fingindo que Lula é nada mais que um Fernando Collor sem jet ski . Há os que, por oportunismo ou burrice, colaboraram demais com a ascensão do partido criminoso ao poder e agora se sentem divididos entre o impulso de se limpar do ranço das más companhias em que andaram, e o de minimizar o crime para não sentir o peso da ajuda cúmplice que lhe prestaram. Há os pseudo-espertos, que dão refrigério ao inimigo embalando-se na ilusão louca de que é mais viável derrotá-lo roendo-o pelas beiradas do que acertando-lhe um golpe mortal no coração. Há por fim os que realmente não estão entendendo nada e, com o tradicional automatismo simiesco da fala brasileira, saem apenas repetindo o que ouvem, na esperança de fazer bonito.

Peço encarecidamente a todos os inflamados acusadores anticorruptos das últimas semanas -- políticos, donos de meios de comunicação, empresários, jornalistas, intelectuais, magistrados, militares – que examinem cuidadosamente suas respectivas consciências, se é que alguma lhes resta, para saber em qual desses subgrupos se encaixam. Pois, excetuando aqueles poucos brasileiros de valor que subscreveram em tempo as denúncias contra o Foro de São Paulo, todos os demais fatalmente se encaixam em algum.

Seria absurdo imputar tão somente a Lula e ao Foro de São Paulo a culpa do apodrecimento moral brasileiro, esquecendo a contribuição que receberam desses moralistas de ocasião, tão afoitos em denunciar as partes quanto solícitos em ocultar o todo. Nada poderia ter fomentado mais o auto-engano nacional do que essa prodigiosa rede de cumplicidades e omissões nascidas de motivos diversos mas convergentes na direção do mesmo resultado: criar uma falsa impressão de investigações transparentes, uma fachada de normalidade e legalidade no instante mesmo em que, roída invisivelmente por dentro, a ordem inteira se esboroa.

A destruição da ordem e sua substituição por " um novo padrão de relação entre o Estado e a sociedade ", decidido em reuniões secretas com estrangeiros, tal foi o objetivo confesso do sr. Lula. Esse objetivo, disse ele em outra passagem do mesmo discurso, deveria ser alcançado e consolidado " de tal forma que isso possa ser duradouro, independente de quem seja o governo do país ".

O que se depreende da atitude daqueles seus críticos e acusadores é que, nesse objetivo geral, o sr. Lula já saiu vitorioso, independentemente do sucesso ou fracasso que venha a obter no restante do seu mandato. A nova ordem cujo nome é proibido declarar já está implantada, e sua autoridade é tanta que nem mesmo os inimigos mais ferozes do presidente ousam contestá-la. Todos, de um modo ou de outro, já se conformaram ao menos implicitamente em colocar o Foro de São Paulo acima da Constituição, das leis e das instituições brasileiras. Se reclamam de roubalheiras, de desvios de verbas, de mensalões e propinas, é precisamente para não ter de reclamar da transferência da soberania nacional para a assembléia continental dos "companheiros", como Hugo Chávez, Fidel Castro, os narcoguerrilheiros colombianos e os seqüestradores chilenos. É como a mulher estuprada protestar contra o estrago no seu penteado, esquecendo-se de dizer alguma coisinha, mesmo delicadamente, contra o estupro enquanto tal.

Talvez os feitos do sr. Lula e do seu maldito Foro não tenham trazido ao Brasil um dano tão vasto quanto essa inversão total das proporções, essa destruição completa do juízo moral, essa corrupção integral da consciência pública. Nunca se viu um acordo tão profundo entre acusado e acusadores para permitir que o crime, denunciado com tanto alarde nos detalhes, fosse tão bem sucedido nos objetivos de conjunto " sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem ".

Não é elogio nem auto-elogio

Em 22 de fevereiro de 2003 escrevi no Globo : "A direita fisiológica imaginou que, bajulando o dominador, ganharia tempo para recompor-se e derrotá-lo um dia. Ledo engano. Se fora do governo a esquerda já logrou reduzir os Magalhães e os Malufs ao mais humilhante servilismo, no governo não descansará enquanto não os atirar à completa impotência e marginalidade. Não dou dois anos para que cada um deles, culpado ou inocente, esteja na cadeia, no exílio ou no mais profundo esquecimento."

Magalhães foi para o museu faz mais de um ano. Maluf está na cadeia.

Em 11 de março de 2004 escrevi no Jornal da Tarde : "O partido governante não tem a menor intenção de curvar-se às exigências morais e legais das quais se serviu durante uma década para destruir reputações, afastar obstáculos, chantagear a opinião pública e conquistar a hegemonia. Denúncias e acusações não têm a mínima condição de obrigá-lo a isso, porque não há força organizada para transformá-las em armas políticas."

O STF vetou os processos de cassação de mandatos contra José Dirceu e os demais acusados petistas (até agora o único punido foi, não por coincidência, o denunciante dos crimes).

Há mais de uma década, todas as previsões que fiz sobre os rumos da política nacional se confirmaram, enquanto os mais badalados comentaristas e politólogos, da mídia e das universidades, não acertavam uma, uma sequer (breve mostruário em http://www.olavodecarvalho.org /semana/050625globo

Como se explica um contraste tão acachapante?

Quinta-feira da semana retrasada, ao receber-me na Atlas Foundation de Washington para a breve alocução que ali pronunciei (http://www.olavodecarvalho.org /palestras/palestra_atlas _set2005.htm), Alejando Chafuen, presidente da entidade, economista e filósofo de fama mundial, disse que as minhas análises estavam entre as mais valiosas realizações que ele já tinha visto no campo da ciência política. Não entendo isso como elogio, mas como o simples reconhecimento de um fato. O poder de previsão fundado na análise racional dos dados é a marca mais característica e inconfundível do saber científico. Tenho despendido uma energia considerável no empenho de compreender cientificamente a sociedade e, se o resultado é algum conhecimento efetivo, não há nisso surpresa maior do que aquela que você tem quando deixa o carro enguiçado no mecânico e no dia seguinte o carro sai funcionando. É verdade que meus trabalhos teóricos, como "Ser e Poder" e "O Método nas Ciências Humanas", que circulam como apostilas de meus cursos na PUC do Paraná, continuam inéditos em livro e não têm como ser resumidos em artigos de jornal, onde as conclusões monstruosamente compactadas da sua aplicação aos fatos do dia aparecem como se nascidas do nada. Mas já vão longe os tempos em que o editor Schmidt, pela leitura de uns relatórios de prefeito do interior de Alagoas, adivinhava um romancista oculto. Hoje a totalidade da classe falante é incapaz de suspeitar que exista alguma investigação científica por trás de uma sucessão ininterrupta de previsões certas que, de outra forma, só se explicariam por dons sobrenaturais como a sabedoria infusa de São Lulinha.

Longe da mídia brasileira

* No noticiário da passeata anti-Bush em Washington, nenhum jornal brasileiro, absolutamente nenhum, mencionou nem mesmo por alto as ligações diretas entre algumas das entidades que promoveram essa manifestação e as organizações terroristas responsáveis pela violência contínua no Iraque. Quem quiser saber algo a respeito encontrará todas as informações no site de David Horowitz, www.discoverthenetwork.org.

* Altos funcionários do governo da Lousiana estão sob investigação criminal por desvio de 60 milhões de dólares de verbas federais enviadas, muito antes do furacão Katrina, para a reforma das barragens de New Orleans. Entendem por que a obra não saiu?

* O repórter da ABC, Dean Reynolds, foi filmado em pleno vexame de tentar extorquir declarações anti-Bush de vítimas da enchente, recebendo respostas contrárias às que esperava. O mais lindo foi o diálogo com uma senhora negra:

-- A senhora não tem raiva do presidente por causa da resposta federal tardia?

-- Não, de maneira alguma. Os governos do Estado e do município é que tinham de estar a postos primeiro.

-- E não estavam?

-- Não, não estavam. Meu Deus, não estavam!

* O primeiro-ministro Tony Blair estragou a festa dos ecochatos na reunião da Clinton Global Initiative num hotel chiquérrimo de Manhattan. Ex-partidário do badalado Protocolo de Kyoto, chegou à reunião dizendo que ia falar "com honestidade brutal", e fez exatamente isso: disse que, quando o tratado expirar em 2012, país nenhum vai querer assiná-lo de novo, boicotando seu próprio crescimento econômico. O colunista James Pinkerton, da Tech Central Station , disse que em tempos normais essa declaração seria manchete em todo mundo. Agora, a grande mídia americana, mais interessada em ativismo ecológico global do que em jornalismo, preferiu ignorá-la.

* Enquanto as organizações de familiares das vítimas do terrorismo basco prometem manifestações de protesto contra a cumplicidade entre o primeiro-ministro Zapatero e a ETA, esta organização terrorista, que acaba de fazer mais um atentado (mal sucedido, felizmente),  anuncia que vai prestar homenagens a Fidel Castro e Hugo Chávez durante a reunião de chefes de Estado latino-americanos em Saalamanca, 14-15 de outubro. 

Olavo de Carvalho - Diário do Comércio, 26 de setembro de 2005